Quinta das personagens...
Apercebi-me hoje, ao olhar para a televisão, do meu problema… passo a explicar sucintamente para que me compreendam. Há coisa de uns 2 meses para cá ando a levar com anúncios cortantes nos quais são exibidos animais em pose rústica, lá para o fim do anuncio quase que carimbam o animal com o dizer: “aprovado”… Pois bem, como a minha televisão não dá para mudar de canal e como eu sou obrigado a enfardar TVI o dia todo, comecei a aperceber-me de que a TVI tinha um programa novo na calha e que esta era a maneira de me dizerem para eu deixar de ver TVI ou então o meu inocente cérebro estaria sujeito a uma carga perturbante de imagens, sons, cores, sentidos a que este tipos de programas já nos habituaram. Este tipo de publicidade não serve para ficarmos com curiosidade mas sim para nos avisarem que os gajos da TVI se lembraram de fazer um novo reallity show e que estamos bem phudidos se nos prendemos aquilo. A verdade é que eu não dei muita importância a estes anúncios, fiz mal… muito mal…
Passo a contar… estava eu a caminhar para o final do dia 3 de Outubro de 2004 sentado no sofá lá de casa e decido ligar a televisão, como já expliquei na minha televisão só consigo ver TVI, vai daí começo a mamar uma quantidade astronómica de anúncios a um montão de produtos e a mais uma quantidade louca de empresas e serviços. O dia estava a correr bem, não tardava estava a aterrar no sofá e no dia seguinte já nem me lembrava de como tinha adormecido ali, mas não! Esta minha calma de consumidor de anúncios televisivos termina quando a minha vizinha de cima, aflita, bate-me á porta e diz-me quase sem ar: “Ó Ulisses, vai começar agora a quinta das celebridades, diz que vai ser um programa muito bom, só te queria avisar disso, boa noite! Já agora… tas todo bom e se não fosse o programa estar a começar agora eu até deixava que me saltasses á espinha…” Ainda sem querer acreditar no que me tinha dito, pergunto calmamente: “mas eu pedi-lhe alguma coisa?” ela olha para mim com cara de quem se vai phuder não tarda com um murro no fucinho e diz, agora a tremer: “mas… mas… mas… eu pensei que gostasses de ver assim programas da galhofa e da pândega com pessoas importantes…” É precisamente aqui que me descontrolo e começo a violenta agressão, que esta já me andava a pedir á muito, com uma rasteira que aprendi com um preto de Chelas, assim que a vejo no chão começo a recitar Fernando Pessoa enquanto lhe espeto, com pancadas secas mas persistentes, a bota da tropa que tinha calçada no pé direito, mesmo na cabeça. Ela de inicio geme um bocado, mas depois de terminado o recital de autopsicografia já nem a ouço. Nesta altura o meu pai aparece e pergunta: “ó filho queres ajuda??” eu olho para ele com cara de quem está a controlar a situação e ele diz-me: “Ó mas eu também queria molhar a sopa…” eu volto a olhar e digo: “Deixa-me só desta vez!”, mas já sabia que o meu pai não ia acatar o meu pedido, ele olha para mim e enquanto tirolira Bash- “Allegro” espeta-lhe um pé no abdómen, o que fez com que a vizinha ficasse com a barriga consideravelmente mais pequena… até hoje ainda penso como o meu pai fez aquilo… Fico a olhar para o estado em que o meu pai deixou a barriga da vizinha e ouço-a borbulhar (nesta altura ela já estava a afogar-se em sangue, acho que aquele patardão de força lhe dilacerou um pulmão) “desculpe!!”. Mas já era tarde de mais para ela se desculpabilizar, vou ao meu quarto e ligo as colunas de 500Ws com a 5ª Sinfonia de Betwoven, volto ao corredor do prédio e digo-lhe: “está a ouvir?” ela abana com a cabeça afirmativamente e aí eu digo, enquanto dou lanço ao braço com uma chave de fendas na mão: “então vai deixar de ouvir!!”.
Volto para dentro de casa e começo a assistir tranquilamente ao primeiro dia da “quinta das celebridades”, aquilo começa e eu penso que agora a TVI se esmerou e até me vai oferecer, A MIM que tanta TVI consumo, um programa com uma qualidade um bocadinho superior, não era pedir muito… assim que ouço a musica as pernas começam a fraquejar, o separador termina e os caramelos da TVI têm o desplante de mostrar a decoração assim ás escancaras, aqui fico com náuseas e já sentado fico a olhar para a televisão a pensar no que me fui meter. Ainda estava eu longe de ter conhecimento de quem era a apresentadora… a verdade é que com um estúdio assim, com uma decoração assim e com uma musica assim a única solução era meter lá uma apresentadora que disparasse tantas palavras quanto o possível para que o espectador se esquecesse de que o aquele estúdio mais parecia uma daquelas casas que aparece nos filmes porno. Lá estava ela, Júlia Pinheiro no seu melhor, fecho os olhos e penso: “Volta Teresa Guilherme, estás perdoada!”, mas o inevitável tinha que acontecer, eu não estava com sono e já estava hipnotizado com as bacoradas que a Pinheiro tinha despejado, tinha que levar com o programa até conseguir engolir a minha própria língua, talvez fosse essa a única solução para parar de respirar e assim sempre conseguia desmaiar e pronto! Ganhava eu!
Os concorrentes começam a aparecer dois a dois, começam a descer as escadas, confesso que cada vez que por lá passava mais um par animado de concorrentes eu pedia com todas as forças para que alguém desse um malho, a verdade é que isso não veio a acontecer, com muita pena minha…
Tava eu já a prever o meu sofrimento, até que aparece o José Castelo Branco, confesso que nem queria acreditar na imagem que via, um “gajo” com baton nos beiços e altamente maquilhado, isto para já não falar na quantidade de veneno botulínio que ele tem debaixo da pele da cara, bem como a quantidade de silicone que aqueles lábios ostentam, disse lábios? Quis dizer pneus auto… Ele surge com a sua pose de gay que gosta de levar umas enrrabadelas de vez em quando mas que uma vez por outra também gosta de comer a bilha a uns quantos cabo verdianos a quem ele chama carinhosamente “meus armários lindos”… ele senta-se e o meu mundo desmorona-se quando ele abre a boca para dizer uma merda qualquer que já nem me lembro… tudo o que me recordo, e dessa imagem nunca me vou esquecer, é de verificar que “os beiços” dele também mexem… devo confessar que aquilo foi uma imagem arrepiante e que não aconselho ninguém á sua revisualização afim de não ficar como eu… com danos cerebrais…
O “tempo de antena” do “gajo” parecia não chegar a um termino… já eu tinha tentado de tudo! Telefonei para as uregencias de todos os hospitais a dizer que estava um tipo a tentar atirar-se do prédio dos estúdios da TVI abaixo, telefonei para a policia mais de 10 vezes a dizer que ia fazer rebentar um engenho explosivo dentro de uma casa de banho dos estúdios da TVI, telefonei para a TVI a dizer para tirarem o castelo branco do ar, telefonei para a endemol a ameaçar que os ia processar por estar a passar imagens altamente chocantes sem a “bolinha vermelha no canto superior direito”, mas nada… ninguém me ligou, nem ninguém fez nada… É de bom tom referir que entre cada um dos telefonemas efectuados e durante estes eu estava numa constante ânsia em ser ajudado, já não conseguia deixar de ver televisão, ou seja, já não conseguia deixar olhar para o raio da fronha do castelo branco, o que ainda exacerbou o meu pânico… Só desviava o olhar para marcar os números de telefone, mas aí começava uma nova supressão, enquanto marcava tremelicantemente os números de telefone batia com considerável violência a minha caixa craniana de encontra o auscultador do telefone… a sensação não é nada agradável, devo desde já aclarar… Pousei, derrotado, o telefone e quando viro o esbugalhado olhar para a televisão já não mais o consegui desviar… As beiçorras do Castelo branco tinham tomado conta de mim… é neste exacto momento que dou atenção ao que o gajo estava a dizer: “na quinta vou ser chique e não vou deixar que o brutamontes dos filmes porno me coma a bufa na duas primeiras semanas…” depois disto caio pesadamente sobre o parquet que reveste o chão da minha sala e fico inconsciente…
Acordo pouco tempo depois deitado sobre uma maca do hospital S. João com um médico a arrotar enquanto bebia sofregamente vinho tinto.
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